sexta-feira, 12 de agosto de 2011

O Mundo Pós Aniversário – Lionel Shriver


Dessa vez o blog tem novidades!

Duas resenhas sobre o mesmo livro. Nada mais justo, afinal, ele conta a mesma história sob dois pontos de vista completamente opostos.
Uma das resenhas é minha, a outra é da Regina Sato, outra leitura compulsiva.
Nós lemos o livro no mesmo período e produzimos as resenhas quase no mesmo dia. Tudo para não perder o timing e a essência.
Esperamos que gostem!


O Mundo Pós Aniversário
Por Regina Sato

‘Ninguém é perfeito.’

É dessa forma simples e um tanto quanto ingênua que a autora começa nos contar a história de três seres humanos. Sim, cruel e assustadoramente humanos.  Tão terráqueos quanto qualquer um de nós.

A autora nos apresenta Irina McGovern, norte-americana, residente em Londres, por volta dos quarenta anos de idade e ilustradora de livros infantis. Casada com Lawrence Trainer, um intelectual, sóbrio e sólido. Trabalha com pesquisas estratégicas e possui valores morais invejáveis. Um casal de vida estável, rotina necessária para saúde mental de ambos e linguagem própria. O terceiro personagem surge, e Irina se encontra em meio ao maior dilema de sua vida emocional: beijar ou não beijar um outro homem?

Um romance como outros milhares já existentes. Nada que pudesse me fazer  recomendar à qualquer pessoa que goste de ler. No meio do primeiro capítulo, eu tinha a vaga impressão que seria uma leitura à lá ‘cinema sessão da tarde’. Comédia romântica que você já prevê o final depois de vinte minutos.

O mundo, junto com a minha opinião, mudou muito após o tal aniversário. É no pós-aniversário de Ramsey Acton, o terceiro personagem, que tudo fica nebuloso e eu comecei a ler o livro como se houvesse um espelho por trás das linhas, me obrigando a ver-me constantemente em meio as dúvidas de Irina. Dividida entre um intelectual sóbrio e um jogador de sinuca, sensual e apreciador de cigarros e bebidas.

A partir dessa apresentação de personagens comuns e com dúvidas comuns, a autora dá largada ao universo do ‘what if’. Aquele que existe no consciente e subconsciente de qualquer pessoa desse planeta. Duas vidas totalmente diferentes, consequência da escolha de beijar ou não beijar. Trair ou não trair.

A grande sacada de Shriver é nos dar o direito de não termos personagens preferidos, heróis ou vilões. Ela não defende nenhum lado, não é moralista e não nos deixa ser. Não sentimos raiva de um personagem mais do que de outro. Ela não escolhe o destino dos personagens. Ela expõe fria  e verdadeiramente a influência de outros em nossos atos e em nossas personalidades. Defende a cada instante que somos ‘produto do nosso meio’.

Sendo uma história profundamente humana, assim como na vida, há altos e baixos, há mudança de rítmos, e em alguns momentos nada acontece. E em outros, tudo acontece. Assim como nós, assim como os personagens, a autora assume: ela também não é perfeita.
Recomendo a leitura seguramente.


O Mundo Pós Aniversário 
Por Shirley Hilgert Dantas de Carvalho

O Mundo Pós Aniversário é um livro que demorou a acontecer, mas quando ele finalmente mostrou para que veio, surpreendeu.

Ele fala, basicamente, sobre as implicações de uma escolha, e, ao longo de suas páginas, a autora descreve os dois caminhos que a vida da personagem principal poderia ter seguido caso ela tivesse optado por beijar ou não um amigo do casal (sim, ela é casada) no dia do seu aniversário.

A partir desse momento de ruptura, as duas histórias correm em paralelo, sendo sempre um capítulo contando a história da Irina contida, que não beijou o atraente amigo, e da Irina inconsequente, que largou tudo que tinha para viver mais que uma aventura com um jogador de sinuca profissional. Nessa obra voltamos o eterno dilema “segurança x paixão”.

A autora arrasou na construção do perfil psicológico dos três principais personagens e foi extremamente feliz na criação de um paralelismo quase perfeito, mostrando pequenos detalhes e diálogos que se repetem nas duas histórias, mas com significados totalmente diferentes.

O grande defeito do livro foi o ritmo com que as coisas aconteceram na sua primeira metade. A história arrastou-se até próximo da página 300 e, somente a partir daí é que as coisas entraram num ritmo realmente eletrizante, com algo novo e surpreendente acontecendo a cada pouquíssimas páginas.

Indico a leitura para aqueles que gostam de histórias mais lentas e com um cunho psicológico bem forte e para aqueles que têm paciência de deixar um livro crescer aos poucos, pois de cara, não é uma obra que arrebata nosso coração, mas termina nos deixando de queixo caído.


Editora: INTRINSECA
Ano de Lançamento: 2009
Número de páginas: 544







segunda-feira, 8 de agosto de 2011

Leila Diniz - Uma revolução na praia

Confesso que sempre ouvi falar de Leila Diniz, mas nunca havia entendido muito bem o que essa moça fez para gerar tanto escândalo em sua época. Tirando o fato de ela ter aparecido grávida e de biquíni numa praia do Rio de Janeiro em pleno início da década de 70, quando ninguém se arriscava a fazer isso, o resto para mim era desconhecido.

Mas certa vez resolvi dar uma espiadinha no livro Leila Diniz: Uma revolução na praia e percebi que dedicar algumas horas para saber mais sobre a vida dessa marcante figura não seria uma tarefa penosa.

Leila Diniz realmente “causou” na sua época. Ela fez coisas bem normalzinhas para os dias de hoje, mas que há 40 anos deixavam qualquer pessoa “de boa família” de cabelos em pé. Ela foi, acima de tudo, uma mulher incrível de uma personalidade marcante, que com seu jeito desbocado, irreverente e espontâneo desencadeou mudanças sem volta no comportamento feminino nacional.

A história de Leila Diniz se mistura, de certa forma, com a história do Brasil das décadas de 60 e 70, quando a ditadura pegou valendo e só quem tinha “culhões” (mesmo não os tendo de fato) ia em frente para expressar suas insatisfações e dar voz aos seus anseios. Exatamente o que Leila fez, sem se preocupar se estava agradando os de direita, os de esquerda ou  ninguém.

Leila Diniz foi embora muito cedo (e repentinamente), mas não sem antes deixar a sua valiosa contribuição para termos hoje uma sociedade menos hipócrita. Sem querer pregar sua ideologia, mas fazendo isso naturalmente, Leila Diniz revolucionou a forma com que a sociedade via a mulher, coisa que trouxe consequências que podem ser vistas e vividas até os dias de hoje.

Está aí uma leitura leve, gostosa e que dá boas pinceladas na história do Brasil. Indico para quem gosta de biografias de grandes mulheres, rapidíssimas de serem lidas e que nos prendem desde o primeiro parágrafo.

Autor: Joaquim Ferreira dos Santos
Páginas: 280
Ano: 2008