segunda-feira, 21 de março de 2011

Filha, Mãe, Avó e Puta – Gabriela Leite

Todo esse burburinho em cima do filme Bruna Surfistinha, que ainda não assisti, mas que está na minha lista de pendências, me fez querer escrever sobre o livro Filha, Mãe, Avó e Puta, da escritora Gabriela Leite.

Quando ouvi falar pela primeira vez sobre o livro, que é autobiográfico, coloquei em dúvida a qualidade da obra (afinal, não era bem pelos seus dotes literários que a autora era famosa), mas tive uma grande e grata surpresa assim que iniciei a leitura das primeiras páginas. Além da história ser interessantíssima, ela foi excepcionalmente bem contada, levando-nos a conhecer e entender o universo infame da prostituição (que normalmente olhamos de cima e com grande desprezo) de uma forma um pouco menos preconceituosa.

Filha, mãe, avó e puta conta a trajetória de Gabriela, uma jovem paulistana de classe média, ex-aluna dos melhores colégios de São Paulo e estudante do curso de filosofia da USP (no qual passou em segundo lugar) que, aos 22 anos, decide tornar-se prostituta.

O interessante da história de Gabriela é que ela não escolheu o rumo de sua vida por falta de opção. Mas por que essa era a SUA opção. Não porque queria dinheiro “fácil” para pagar por luxos aos quais não tinha acesso. Mas porque queria ter acesso a um mundo diferente, que lhe parecia normal e verdadeiro.

Gabriela passou por situações tristes, deprimentes e degradantes, afastou-se de sua família e foi afastada do convívio com suas filhas, mas não se arrepende de nada. Dá até para entender: tudo isso fez dela o que ela é hoje - uma socióloga respeitada, fundadora da ONG Davida e da grife Daspu e figura atuante na discussão e defesa de assuntos relacionados à prostituição.

Na minha opinião, o grande mérito da obra, além da competência com que foi escrita, é o fato dela conseguir incitar em nós um pouco de respeito por este universo que nos parece, a primeira vista, tão aversivo.

  • INFORMAÇÕES TÉCNICAS SOBRE O LIVRO:
  • Autor: GABRIELA LEITE
  • Ano: 2009
  • Número de páginas: 228

Perfil de Gabriela, escrito por Flávio Lenz Serra, para o livro “Eu, mulher da vida”:

“Gabriela tornou-se prostituta por opção. Antes de entrar “na vida”, muitas vidas viveu com intensidade: adolescente classe média, universitária da USP nos anos 60, secretária de multinacionais, mulher de malandro, mãe solteira. Ovelha negra em pele de lobo, ochão fugia aos seus pés quando ela decidiu partir de uma vez por todas, para a marginália. ‘Aí começa o meu grande tesão de atuar nesse mundo.’

Das zonas na Boca do Lixo, em São Paulo, à militância política nas organizações internacionais de prostitutas, muitas águas rolaram. Em sua luta pela dignidade das profissionais do sexo, Gabriela se envolveu de corpo e alma em movimentos religiosos e sociais, como a Teologia da Libertação, organizações não-governamentais (ONGs), setores do governo, grupos feministas, partidos políticos, guetos e tribos. Sem temer podres poderes e nunca engolindo hipocrisias, ela desvenda os bastidores desses diversos mundos e nos mostra que estamos todos no mesmo barco, participando de uma difícil batalha pelo encontro de um desejo, que é pessoal e único.

Nesse campo do sonho e do desejo atua a prostituta. Mulher da vida, guarda consigo a chave de um mistério, que sempre será mágico."

Leia um trecho da obra na revista Veja:

http://veja.abril.com.br/livros_mais_vendidos/trechos/filha-mae-avo-e-puta.html